sexta-feira, 12 de junho de 2009

quinta-feira, 24 de abril de 2008

pare o mundo: eu quero descer.

Foi como se eu tivesse encontrado alguma coisa que há muito queria e nem estivesse procurando. E eu chamo isso de sorte.
Analisei o que ele queria me dizer. Deixei de bancar a vítima que, no fim das contas, nem fui.

Mas deixe eu lhe contar como tudo de esclareceu: estava eu me deliciando com Os Sofrimentos do Jovem Werther de uma forma menos indecorosa que soa alguém se deliciar com o sofrimento alheio, quando Goethe fez uma passagem belíssima a qual eu procurei insistentemente para colocar aqui sem êxito, devo dizer.
De qualquer forma, ele falava que quem julga o mundo desinteressante não percebe que é uma visão interna estendida, isto é, o dia por si só nunca é enfadado, mas sim a pessoa que o descreve dessa forma.
Logicamente ele disse de uma forma mais brilhante em que a idéia principal era essa e era certa.

Confesso que às vezes fico admirada com a capacidade das respostas simplesmente parecerem. E a sutileza com que elas me vêm, porque poderia ter sido uma tapa bem dado, pra deixar os cinco dedos marcados no rosto. Mas não. Assemelhou-se com uma tapa de luvas, sutil, que me deixa alerta e me faz cair em si.

Pelo menos fugiu das famosas respostas da mamãe em que tudo recai a anemia que nem sabemos se eu tenho. Podem ser unhas fracas, cabelo feio, sono, cansaço ou falta de capacidade de combinar as roupas pra ela dizer:
- Claro, não come! Brinca com a saúde! Você acha isso bonito... blá-blá-blá!
Eu como! Só não o que era espera e isso das pessoas esperarem de você alguma coisa e você esperar do mundo outra é realmente um conflito.

E eu bem que deveria ter desconfiado que o problema é meu porque é óbvio que tudo e todos (em geral e com raríssimas exceções) não são tão agastadiços como me parecem. E eu só agora notei tudo isso por uma deficiência que antes também não me era vista: a lentidão!
Eu sou muito lenta! É por essa razão, inclusive, que os dias parecem voar e as crianças crescem rápido aos meus olhos. Nem é uma coisa, nem outra que realmente acontece.
Tudo se passa num instante perfeito, o meu cérebro é que demora para processar todas as informações...

Ainda não sei o que fazer, mas quando a Bréscia disse que queria engolir o mundo eu notei que precisaria de outro fenômeno. Tive ímpetos de encontrar mecanismo pra apertassem a tecla de 'mudo' por uns dois dias (só dois dias!) pra eu alcançar o que me escapa e acompanhar o presente.

No fim das contas eu voltei pra estaca zero sem saber o que fazer da minha vida: "se permaneço ou me desfaço, não sei, não sei se fico ou passo", como disse Cecília Meireles. Talvez esperando uma frase perdida pra me servir com resposta.

Por favor, emprestem-me romances!

[Todos vivemos sob o mesmo céu, mas nem todos vêem o mesmo horizonte] Konrad Adenauer

quarta-feira, 23 de abril de 2008

cada uma.

Ontem. Centro de boa Vista. Sol quente. 15h56min.
A minha aula pra começar em quatro minutos e eu presa com a Sâmia num sinal vermelho.
- Nessas horas você não sente uma vontade irresistível de ultrapassá-lo? Eu sinto - digo.
Sâmia olha pro sinal, olha pra mim, olha para os lados e acelera.
- TÁ DOIDA?!, grito.
- A idéia foi sua, responde-me.
- Minha idéia?! Não foi nem uma idéia, eu só pensei alto...
- Ahh, mas falou.
- Agora pronto! Se eu falar pra você se jogar da Ponte dos Macuxis, você vai se jogar?
- Não, ela diz pensativa.
- Então!
- Eu não sei nadar.

ujskjdgkjdsfjvdjffdfs
Vá lá! No futuro nós poderemos dizer qualquer coisa, menos que não temos histórias.

[Quero a certeza dos loucos que brilham
Pois se o louco persistir na sua loucura
Acabará sábio] Raul Seixas

domingo, 13 de abril de 2008

domingo.

Eu estava numa dessas tentativas frustradas de arrumar meu quarto, quando me apareceu o caderno do terceiro ano. Sorri.
Abrindo-o eu que voltaria pra escola, pros meus amigos, pras aulas, pra época mais perfeita que uma pessoa pode ter. Fui direto às últimas folhas: a minha teoria é que as últimas folhas de um caderno revelam muito sobre a pessoa (não sei como, nem porquê... talvez seja uma teoria inacabada) e eis a minha surpresa quando vejo um mundo de lamentações em ensaios e fragmentos de textos.

Isso veio de encontro com a de tarde de hoje em que tentávamos fugir Sâmia, João e eu da nostalgia dos domingos, nos refugiando na beira do rio, conversando de tudo um pouco, tomando Coca-Cola com Fandangos e, claro, lamentamo-nos da vida, cada qual ao seu modo.

Sâmia queixa-se de suas indecisões. Diz que antes era mais determinada e hoje sente-se perdida até nas escolhas banais. Digo à Sâmia que por mais paradoxo que seja, isso tem a ver com maturidade. Quando se é criança a gente se vale de saber-tudo e só com o passar depois descobre que não se sabe nada.

João quer viver, mas não sabe como, nem por onde. Quer que a vide dele inicie e tem medo que isso aconteça. Eu entendo João. Eu sinto o mesmo. E o problema se agrava quando nos assustamos com a rapidez dos dias. Eu, por exemplo, em cinco meses completo vinte anos. E quando menos esperar, os trinta baterão a minha porta. Já pensou a tristeza de ter trinta anos e não ter feito nada de interessante, ousado, incrível, extraordinário? É uma sede de viver intensamente própria da juventude, como se o mundo fosse acabar amanhã.

Blá, sem falar do jeito entediado dos últimos tempos, com saco cheio de tudo e todos. Um “dane-se o mundo” constante. É uma vontade de fugir, sabe-se lá pra onde... Blá. Blasé!

E voltando pra casa, olhando o quarto com roupas pra todos os lados (pro desespero da minha mãe), vendo lamúrias atuais de um período passado e esplêndido, percebi que essas minhas crises existenciais fazem parte de mim, como a fantasia faz parte de uma criança. Percebi que por mais estressante, confusa, entediante e assombradas que os nosso dias se apresentem, um dia, ao olharmos pra trás, nós lembramos da risada à margem do rio, do vento batendo no rosto e da música do João Gilberto embalando o domingo. Nada mais.

[Caminho de pedra onde não vai ninguém
Só sei que hoje tenho em mim
Um caminho de pedra no peito também
Hoje sozinho não sei pra onde vou
É o caminho que vai me levando] Caminho de pedra, Tom Jobim e Vinícius de Morais

quarta-feira, 9 de abril de 2008

papo-cabeça

Intervalo de Filosofia:

- Eu acredito na imortalidade da alma.
- Você fala de reencarnação?
- Não necessariamente. Eu acho que nós nos revivemos através das cópias que fazemos.
- Como assim?
- Eu pensei nisso quando eu vi a avó da minha ex-namorada. Essa minha ex-namorada era igualzinho a avó dela, sendo mais nova. Entendeu?
- Mais ou menos.
- Deixa eu lhe dá outro exemplo: quando meus avôs morreram, eu era muito pequeno. Apesar de tê-los conhecido, não lembro de fisionomias. Então, visitando a cidade desses meus avôs com a minha mãe, uma senhora que nunca tinha me visto, perguntou se eu era neto dessa minha avó pela minha fisionomia, dizendo que eu era muito parecido com ela. "A cara dela". Você está entendendo? Minha avó continua existindo através de mim! Eu sou a minha avó!
- Você é a sua avó?, perguntou um dos nossos colegas ouvindo a estória.
- Sim, eu sou a minha avó!
- E você já tá tricotando?!

auhauhuhauhauhauha
O pensamento foi bom, mas a piada nem se compara! ;D

sexta-feira, 4 de abril de 2008

pingos nos is.

Foi tudo de uma vez!
Primeiro eu tinha acabado de postar um texto falando da minha maneira distorcida de vê o mundo; depois o post que condenava a forma de alienação das religiões recebia um comentário da Fernanda que, entre outras coisas, dizia “que religião, seja qual for, é para muitas pessoas uma válvula de escape, seja pra culpar ou dar crédito, [pois] elas precisam acreditar no sobrenatural ou coisa do tipo”, ao que concordei, muito embora questionando até que ponto essa válvula de escape é benéfica ou não.

E foi aí, justamente aí, que tudo deu um nó e entrei em colapso. Porque veja comigo: eu tinha acabado de me assumir alienada ao mesmo tempo em que condenava a alienação alheia.
Seria uma contradição? Ou pior, será que eu estava bancando a etnocêntrica, a demagoga – como nos tempos que me intitulava socialista por achar linda a idéia de igualdade com a divisão de riquezas, comprava tudo o que um cartão de crédito poderia, negando cinqüenta centavos ao menino da rua, porque 'quem dá dinheiro não dá futuro'.
Será que eu estava me enchendo de discursos vazios?

Então eu não consegui tirar esse turbilhão da minha cabeça! De um lado vem a minha certeza que um mundo feito à base do meu achismo está longe de ser o que pretendo, já que o contrário me atrai – como as mais das acaloradas discussões, análises, opiniões e todo o dinamismo que o raciocínio provoca! Eu só sabia que havia algo estranho, muito estranho, mas não o estava conseguindo identificar.

E foi graças ao trabalho de Sociologia que enrolei horrores, que a resposta chegou.
Por ironia do destino quem me respondia era o mesmo cara que me fez ser aliada dele (sem nunca ter lido uma obra sua) e depois de estudado um mínimo, ter me rebelado, virar sua opositora e agora, livre de partidos, me dá a chance de conhecer seu pensamento contextualizado com a sua época, afinal de contas, inteligência era uma das suas virtudes de Marx. (Além disso, viria descobrir, o problema não era Marx em si, mas aquilo que fizeram do pensamento dele).

Ele disse que Ideologia vai ser o pensamento de alguns intelectuais pra dominar a sociedade não pela força, mas pelo conhecimento. E da Ideologia nasce a alienação - em que ele enfatiza a partir do trabalho, mas também cita outras formas, entre elas a religião: o ópio do povo.

Pronto. Era tudo o que eu precisava pra respirar mais aliviada e juntar dois e dois, pois a questão não é a alienação em sim, pelo contrário. Eu fico num misto entre estado de graça e fascinação com a alienação de muitos que me cercam. A minha resistência se dá não quando a pessoa se aliena, mas quando se deixa alienar, isto é, quando segue algo que nem seu é, mas uma idéia imposta. Às vezes nem pensa ao certo o que faz. E o faz.

Deve ser por isso que nunca gostei que me chamasse para freqüentar cultos e nem de convidar ninguém a ir aos cultos que freqüentava. Quem quiser que vá atrás de uma fé, de conhecê-la, de saber se serve para você, como eu também vou atrás do que me falta, pensava. Porque no fim das contas, isso vai ser tão íntimo, tão pessoal, que seu ninguém tem o direito de meter o bedelho.

E essa é uma das razões que me faz acreditar que um mundo sem religiões poderia ser melhor. Sei lá, melhor pra mim. Então eu fico como estou e deixo o povo como está, né?! Beleza! (:

- Objetivos pessoais: ler ‘Deus, um Delírio’ de Richard Dawkins assim que sobrar um tempinho!

[Poderíamos ser melhores se não quiséssemos ser tão bons] Freud

quarta-feira, 2 de abril de 2008

decisões.

Quer ver uma coisa engraçada? O curso de Jornalismo da UFRR. Sabe aqueles alunos mais brilhantes? Aqueles que enchem a gente de orgulho? Aqueles que a gente aposta que serão os novos Caco’s Barcellos da geração atual? Eles são os primeiros a pular do barco em movimento. E pra quem duvida, converse com alguns dos integrantes do Blog. Eu tomo um susto a cada dia. A Cora desistiu de jornalismo vai ser arquiteta. A Elânia me assustou mais ainda, quando resolveu se aventurar pelos caminhos da justiça e cursar Direito. Cristofer, como já era de se esperar, resolveu continuar com a Publicidade. Willame, há um semestre de concluir Comunicação Social tem estampado em letras garrafais “JORNALISMO?” como porta de entrada do seu perfil no orkut. Meu Deus! Agora tudo faz sentido!Agora entendo a existência de Roraima Hoje’S e Mete Bronca’S no mundo. Entendo porque o jornalismo é tão covarde, sem ética, sem moral, sem escrúpulos... porque os melhores acabam deixando tudo pra lá, saindo fora enquanto há tempo, enquanto não se corrompem... Mas como toda regra há uma exceção, sobrou o Aldenor pra contar a história deles. Dos melhores. Dos guerreiros. Parem com isso! Não me abandonem!!! Refaçam suas matrículas e vamos mudar o mundo! ¬¬ Tudo bem, sem forçar! O jornalismo precisa de vocês por Bruna Castelo Branco, Jornalesmas.


Na primeira vez que eu cogitei a hipótese de largar Jornalismo, tinha em mente que ia ser uma decisão penosa e nem sempre segura – daquelas que a gente faz e se pergunta eternamente se foi a escolha certa. E eis a minha surpresa quando eu me desfiz de algo que nunca pareceu me pertencer.
Não que tivesse caído lá de pára-quedas. Longe disso! Foram testes e testes vocacionais, muita leitura a respeito da área, dois vestibulares, um ano de cursinho, nove meses de espera, seis disciplinas cursadas e um adeus.Talvez não tão fácil quando lembro de todo um desespero inicia, provido dessa vida classe-média que nos impõe um medo do futuro, haja vista que pai e mãe [infelizmente] não dura pra sempre e o quê além dos estudos são tão concretos para construir o futuro?

Quando hoje me perguntam quanto de Jornalismo cursei, abro meu sorriso cínico e digo ‘um semestre’, tomando ciência de que este tempo foi muito pouco e, ainda assim, suficiente pra não preencher minhas expectativas.
Não por falta de aviso – que de deixe claro, mas quando se está por fora, as reclamações podem ser facilmente associdadas a conformismo.

E talvez só quem esteja lá entenda o quão complexa é a situação. Que a expressão ‘mãos atadas’ se encaixa melhor, com a falta de organização da classe, a eterna luta de diploma ou não diploma que nunca vai chegar a lugar nenhum, com três prateleiras de uma estante destinada ao curso, onde contém várias obras repetidas, velhas e desatualizadas. Onde não há investimento, nem interesse. Onde a cadeira de Português não existe na grade do curso; com o professor de Produção de Texto que não aceita a sua interpretação numa obra subjetiva por colocar a dele como certa e, ao invés de analisar de um estrutura texto, circula um parágrafo da dissertação, puxa uma seta e questiona: “será?”, mesmo com uma série de argumentos defendendo a idéia nos parágrafos seguintes.

No entanto, verdade seja dita, há profissionais que são o fio da esperança, que dá orgulho de ter aula, a exemplo do Prof. Edileuson Almeida, formado na UFRR, dono de um grande conhecimento e super preocupado como nós estávamos assimilando o conhecimento. Um profissional impecável!

Eu fiquei em Jornalismo enquanto acreditei nele. E quando isso não mais aconteceu, eu encerei o semestre que começara e segui pra outro rumo levando dentro de mim todas as boas pessoas, todos os bons momentos, as gentilezas, das risadas, da honra de ter sido uma Jornalesma, das tentativas de experimentar todos os sabores de sorvete, das matanças de aula pra namorar na pracinha, das festas com pessoas bêbadas pedindo funk nos intervalos das músicas de rock cantadas por bandas compostas de guitarristas gostosos, com todo tipo de louco se jogando na piscina...

Fernando Pessoa disse que tudo vale a pena quando a alma não é pequena e eu concordo. E ao contrário da suposta perca de tempo, eu vou lembrar as palavras do guru e saber que “não foi tempo perdido. Somos tão jovens... Tão jovens”.

[Eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional para manter minha liberdade] Clarice Lispector.