Eu estava numa dessas tentativas frustradas de arrumar meu quarto, quando me apareceu o caderno do terceiro ano. Sorri.
Abrindo-o eu que voltaria pra escola, pros meus amigos, pras aulas, pra época mais perfeita que uma pessoa pode ter. Fui direto às últimas folhas: a minha teoria é que as últimas folhas de um caderno revelam muito sobre a pessoa (não sei como, nem porquê... talvez seja uma teoria inacabada) e eis a minha surpresa quando vejo um mundo de lamentações em ensaios e fragmentos de textos.
Isso veio de encontro com a de tarde de hoje em que tentávamos fugir Sâmia, João e eu da nostalgia dos domingos, nos refugiando na beira do rio, conversando de tudo um pouco, tomando Coca-Cola com Fandangos e, claro, lamentamo-nos da vida, cada qual ao seu modo.
Sâmia queixa-se de suas indecisões. Diz que antes era mais determinada e hoje sente-se perdida até nas escolhas banais. Digo à Sâmia que por mais paradoxo que seja, isso tem a ver com maturidade. Quando se é criança a gente se vale de saber-tudo e só com o passar depois descobre que não se sabe nada.
João quer viver, mas não sabe como, nem por onde. Quer que a vide dele inicie e tem medo que isso aconteça. Eu entendo João. Eu sinto o mesmo. E o problema se agrava quando nos assustamos com a rapidez dos dias. Eu, por exemplo, em cinco meses completo vinte anos. E quando menos esperar, os trinta baterão a minha porta. Já pensou a tristeza de ter trinta anos e não ter feito nada de interessante, ousado, incrível, extraordinário? É uma sede de viver intensamente própria da juventude, como se o mundo fosse acabar amanhã.
Blá, sem falar do jeito entediado dos últimos tempos, com saco cheio de tudo e todos. Um “dane-se o mundo” constante. É uma vontade de fugir, sabe-se lá pra onde... Blá. Blasé!
E voltando pra casa, olhando o quarto com roupas pra todos os lados (pro desespero da minha mãe), vendo lamúrias atuais de um período passado e esplêndido, percebi que essas minhas crises existenciais fazem parte de mim, como a fantasia faz parte de uma criança. Percebi que por mais estressante, confusa, entediante e assombradas que os nosso dias se apresentem, um dia, ao olharmos pra trás, nós lembramos da risada à margem do rio, do vento batendo no rosto e da música do João Gilberto embalando o domingo. Nada mais.
[Caminho de pedra onde não vai ninguém
Só sei que hoje tenho em mim
Um caminho de pedra no peito também
Hoje sozinho não sei pra onde vou
É o caminho que vai me levando] Caminho de pedra, Tom Jobim e Vinícius de Morais
domingo, 13 de abril de 2008
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2 comentários:
percebe que tudo isso é viver intensamente?
é sentir intesamente?..
eu acho que é..
o sentimento de saco cheio de fazer algo diferente ..das dúvidas de tudo..
é isso, somo nós..a juventude vivendo!
..
pelo menos eu acho que é.
;*
cara.
eu amo os finalmentes dos seus posts.
sério.
q agonia!!!
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